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A São Paulo que ficou no sonho

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Detalhes Publicado em Quarta, 23 Janeiro 2013 22:03 Escrito por Marcus Lopes


Extensas galerias comerciais envidraçadas no interior das ruas do "Triângulo" (São Bento, Direita e 15 de Novembro), uma rede de metrô invejável e a sede do governo do Estado no Pátio do Colégio. Ali perto, a Assembleia Legislativa funcionando em um prédio semelhante ao Capitólio (sede do Congresso estadunidense) e um Paço Municipal que abrigaria no mesmo local a Prefeitura e a Câmara Municipal.


Prédio projetado pelo ex-prefeito Prestes Maia para abrigar a Assembleia Legislativa, na Praça da República. Edifício seria semelhante ao Capitólio. - Reprodução

Esses são apenas alguns cenários da cidade de São Paulo caso projetos grandiosos - muitos deles necessários - saíssem do papel ao longo dos seus 459 anos de idade.

Um deles refere-se ao metrô. Em 1927, quase 50 anos antes da inauguração do metrô paulistano, a Light & Power, empresa que explorava os serviços de eletricidade e transporte coletivo, propôs à Prefeitura dar o pontapé inicial no transporte metroviário paulistano, inclusive com trechos subterrâneos na região central da cidade.


Acima, pórtico que seria construído na entrada no palácio do governo estadual. - Reprodução

Nos primeiros tempos, os túneis (abertos na região do atual Centro Velho) seriam percorridos pelos bondes da companhia, sendo substituídos posteriormente por trens, conforme a demanda por passageiros fosse crescendo.

O projeto acabou engavetado, pois, segundo a Prefeitura, não havia a menor necessidade de um transporte rápido subterrâneo, já que o trânsito na superfície paulistana ainda estava longe de ser congestionado como hoje.

Justificativa semelhante havia sido dada pelo poder público municipal alguns anos antes, em 1914, quando um grupo de capitalistas paulistas pediu autorização para a construção e exploração do metrô. Essa empresa, chamada de "Metropolitana", chegou a traçar o primeiro túnel do metrô, que ligaria a Várzea do Carmo (atual Parque D. Pedro II) ao largo do Piques (atual região da Praça da Bandeira e Ladeira da Memória).

O túnel, com 840 metros de extensão, seria totalmente azulejado e com um elevador no largo da Sé (Praça da Sé), para maior conforto no embarque e desembarque dos passageiros.


No Pátio do Colégio, o mesmo local atualmente. - Reprodução

"Os bondes elétricos da Light passariam por debaixo da área central e depois, com o aumento da população, seriam substituídos por trens", explica o arquiteto e urbanista Nestor Goulart Reis, professor da Universidade de São Paulo e um dos maiores especialistas de história do urbanismo brasileiro.

Segundo ele, além da falta de visão de futuro por parte do poder público, outro motivo para o projeto da Light não ter saído do papel foi o embate que já existia entre a empresa e a Prefeitura, que não autorizava o aumento nas tarifas de bonde.

"Era um projeto (de metrô) muito bem feito, mas a taxa de retorno seria muito baixa, desistimulando a companhia de levar o projeto adiante", explica Goulart Reis, titular da Faculdade Arquitetura e Urbanismo (FAU-USP). Ele lembra que, caso o metrô tivesse sido inaugurado naquela época, nossa rede hoje poderia ser semelhante às das cidades europeias, como Londres e Paris.

Galerias – Mas o clima europeu também estaria presente no comércio paulistano. Em 1890, o litógrafo francês Jules Martin apresentou à Intendência Municipal um projeto ousado: a construção de extensas galerias comerciais envidraçadas no interior das ruas do Centro Velho.


Prestes Maia: planos ousados. - Reprodução

"À semelhança das existentes, por exemplo, em Milão, Nápoles e Bruxelas, as galerias seriam cobertas de vidro, com catorze metros de altura, em três níveis, com lojas no térreo", explica o arquiteto Benedito Lima de Toledo no álbum Prestes Maia e as Origens do Urbanismo Moderno em São Paulo.

No livro, Toledo faz um completo levantamento das obras do ex-prefeito Prestes Maia, autor do famoso Plano de Avenidas que mudou radicalmente os conceitos de urbanismo e impulsionou a capital paulista rumo à modernidade.

Porém, ao mesmo tempo em que conferiu à cidade grandes e importantes transformações urbanas, o Plano de Avenidas (que resultou na abertura de vias como a 23 de Maio e 9 de Julho) é criticado por ter privilegiado o transporte rodoviário, em detrimento dos trilhos.

Em suas duas passagens pela chefia do executivo (1938-1945 e 1961-1965), Prestes Maia também deixou muitos projetos interessantes. Caso tivessem saído do papel, tanto o governo do Estado como a Assembleia Legislativa estariam no Centro.

O governador Geraldo Alckmin, hoje, estaria despachando no Pátio do Colégio, em vez do Palácio dos Bandeirantes. Já os deputados estaduais bateriam ponto no Palácio do Congresso, que seria construído na Praça da República e muito semelhante ao Capitólio norte-americano. O problema é que o suntuoso edifício seria construído no lugar do prédio Caetano de Campos, que seria demolido.


Túnel que seria construído sob o Anhangabaú. - Reprodução

Trens – Em relação ao transporte, Prestes Maia sonhava com uma Estação Geral, que seria construída às margens do Rio Tietê, na região onde hoje se encontra o Terminal Rodoviário do Tietê. A diferença é que a estação não abrigaria ônibus, mas trens - o principal meio de transporte na época.


O ex-prefeito imaginava deslocar para essa estação central todo o transporte ferroviário da cidade. "Para esta estação deveriam convergir todas as vias férreas a serem, então, realocadas para as margens do Tietê. As linhas e estações, então em funcionamento, seriam desativadas", explica Benedito Lima de Toledo.

Além de não ter tido tempo hábil, muitos dos projetos de Maia ficaram no papel (ou desenhados em aquarelas) por falta de recursos, principalmente no seu primeiro mandato, quando o Brasil sofria os efeitos da Segunda Guerra Mundial. Mesmo assim, ele se recusava a economizar, pelo menos nas ideias: "Não façam planos acanhados. Eles não têm magia para mover os homens e provavelmente nunca serão realizados. Façam planos grandiosos. Almejem o alto na esperança e no trabalho", registrou Maia, na abertura do seu Plano de Avenidas.


Estação de trens perto do Tietê. - Reprodução

Fonte:
http://www.dcomercio.com.br/index.ph...ficou-no-sonho

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